Entrevista: Alda Maria Almeida critica o "jornalismo de releases"

quarta-feira, 27 de junho de 2012 0 comentários

Por Mariana Pimenta
Diano Albernaz Massarani


Jornalista guiada pela paixão por cultura, como a própria se define, Alda Maria Almeida cursou Jornalismo na Universidade Federal Fluminense durante o período final da Ditadura Militar no Brasil. Neste bate-papo, Alda conta algumas de suas experiências profissionais e toma posições firmes em relação ao momento atual do jornalismo cultural brasileiro, dentre elas a de que “o avanço da tecnologia não pode justificar o fim do jornalismo de verdade”.

Quando teve a certeza de que seria jornalista? É verdade que, durante o período de graduação, pensou diversas vezes em abandonar o Jornalismo para fazer Cinema?

Fiz Jornalismo e Cinema durante um tempo, até que percebi que iria demorar muito para me formar nos dois e tomei a decisão de optar pelo Jornalismo. Não me arrependo desta escolha, porém me arrependo de não ter terminado o curso de Cinema depois. Cheguei a pedir reingresso, mas já estava trabalhando como jornalista e o tempo não me permitiu concluir o curso.

Como foi a experiência de cursar faculdade em período de Ditadura Militar?

A Ditadura já estava em seu final, já havia passado o período mais pauleira. Cursei a faculdade durante o período de redemocratização. Havia uma grande mobilização, como hoje em dia não se encontra. As pessoas exigiam, protestavam, manifestavam... E, de vez em quando, ocorriam alguns confrontos. Era um período mais estimulante para os jovens, os mais idealistas, pois havia algo que os movimentava. 

Como foi sua primeira experiência profissional como jornalista?


A primeira experiência profissional como jornalista foi em um jornal semanal de Niterói chamado “Sete Dias”. Foi muito legal pelo fato de ser um jornal pequeno, com menos pessoas, menos estresse. Aprendi muito. Uma coisa é o que te ensinam na faculdade, outra é aprender na prática, como, por exemplo, as etapas do processo de fechamento de um jornal.

E como jornalista cultural?

Na área de jornalismo cultural, o primeiro trabalho foi na Rádio Fluminense. Era a época do Rock Brasil. A rádio tinha a proposta de lançar gente nova, ocorriam muitas entrevistas. Tínhamos a preocupação de divulgar o que estava acontecendo culturalmente. Sempre gostei de ler, de obras de artes, cheguei a tentar cursos de pintura, e esta paixão pela cultura, de certa maneira, me guiou.

Para ser um destacado jornalista cultural, até que ponto o conhecimento político e econômico é importante?

O conhecimento amplo é essencial para o jornalista de cultura, pois esta engloba tudo. A cultura é resultado e somatório das experiências vividas no dia-a-dia e o momento político é uma expressão da cultura, enquanto na questão da economia, pelo fato de vivermos, plenamente, uma cultura do consumo, acompanhar os movimentos econômicos se torna muito importante.   

Qual sua opinião sobre a presença maciça de releases nos cadernos culturais dos jornais brasileiros?

A presença maciça de releases, em qualquer editoria, é demasiadamente danosa ao verdadeiro exercício do jornalismo. É impossível a existência de um bom jornalismo sem reportagem, e o release elimina possibilidades como contraposição de fatos, análises, em suma, elimina a reportagem. O “jornalismo de releases” é muito chapa-branca, e está prevalecendo nos veículos de comunicação como um todo. Vinte anos atrás isto não seria possível, por motivos tecnológicos. Porém, o avanço da tecnologia não pode justificar o fim do jornalismo de verdade. 


Concorda com a opinião de que o Jornalismo Cultural é pouco valorizado no Brasil?

Os meios de comunicação de massa são grandes negócios. O Jornalismo Esportivo tem prosperado, pois há tempos o esporte é um grande negócio, que envolve audiência, anunciantes, eventos importantes. Já o Jornalismo Cultural é pouco valorizado pelo fato de a cultura, diferente do esporte, por exemplo, não ser um grande negócio.

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