Controversas reúne ex-alunos de Jornalismo para falar sobre suas experiências no ramo cultural

quarta-feira, 20 de junho de 2012 0 comentários
André Coelho e Júlia Garcia

Foto: Mariana Pimenta
Com o debate focado nos “Caminhos do Jornalismo Cultural”, a conclusão da quarta edição do Controversas foi que, para ter um bom texto, é preciso ler muito e sempre buscar o conhecimento, independentemente da editoria em que se trabalha. O evento foi realizado na última segunda-feira, 18 de junho, no Instituto de Arte e Comunicação Social (Iacs) da UFF.

"Assim, eu tive a facilidade de transitar entre diferentes mundos, fazer a interseção entre assuntos que podem parecer completamente opostos, e não são, como a política e a cultura, por exemplo", afirmou Claudia Lamego, Coordenadora de Imprensa e Eventos da Fundação Roberto Marinho. 

Para ela, o repórter de cultura não deve se limitar aos cadernos específicos. "Passar por áreas diferentes me permitiu adquirir uma leitura mais crítica, mais forte, conquistada através de experiências distintas, ao longo da carreira".

Com a difícil função de organizar todos as tarefas ligadas aos eventos da organização, onde trabalha há dois anos, a carreira de Cláudia começou no 5º período de Jornalismo, na UFF, quando reuniu alguns amigos para organizar o Caroço,  jornal que era impresso na própria gráfica da universidade.

O projeto, apesar de criativo, teve vida curta, e a estudante se tornou estagiária do jornal O Globo. Ficou no veículo por dez anos, passando por diversas editorias. Chegou a ouvir da editora a frase “aqui você vai aprender de tudo”, o que se confirmou. Contudo, quando teve seu primeiro filho, a rotina agitada de um jornal diário passou a ser uma dificuldade para a jornalista.

Nesse estágio de sua carreira, Cláudia foi convidada a trabalhar na assessoria de imprensa da EBX, onde ficou por menos de um ano, até chegar, finalmente, à Fundação Roberto Marinho.

Frustação com o mercado


No caso de Ulisses Mattos, as frustrações em editorias como Cidade e Diversão fizeram com que ele fosse transferido para a cobertura de TV no Jornal do Brasil. Foi então que ele conseguiu desenvolver um trabalho forte, que lhe permitiu chegar ao cargo de editor do suplemento "Programa".

"Minha abordagem era diferente da usada pelo JB nessa época", disse. "Queria fazer algo mais 'pop', com textos mais leves, o que acabou dando certo".

Segundo ele, a intenção era sair do jornalismo tradicional e abrir espaço para um certo experimentalismo na escrita. Ele criticou o jornalismo atual, dizendo que, muitas vezes, falta apuração e criatividade, e que as matérias não passam de uma cópia dos textos das assessorias da comunicação.

Ulisses começou no Jornal do Brasil ainda estagiário, sob a coordenação de Artur Xexéo. No entanto, contou que uma das experiências mais marcantes de sua vida profissional foi a criação da revista M, sobre comportamento e humor. “A M foi o adubo para o trabalho que faço hoje”, brincou.

Muito extrovertido, o jornalista, roteirista e conteudista viu no projeto descontraído o início do que seria uma carreira no humor. Ele também foi colaborador de revistas como Playboy e Veja, e chegou a lançar outra publicação, um jornal de cultura com circulação no Centro do Rio, o Avenida Central, que durou apenas três anos.

Busca ativa por oportunidades


Aos 34 anos, Viviani Fernandes de Lima contou que sua carreira começou por uma iniciativa sua em uma revista especializada em música. Ela enviou uma sugestão de pauta para o editor da publicação, chamada Música Brasileira, mas não recebeu nenhuma resposta. 

Resolveu, então, enviar a matéria pronta por fax para a redação. Foi chamada para ser colaboradora e, depois de pouco tempo, já integrava a equipe como estagiária. Nessa mesma época, por indicação do editor, ela passou a adotar o nome Vivi Fernandes. Segundo ele, seria mais prático.

Pouco antes de se formar, a moça criou o projeto de uma revista de música. Deu o nome de Pauta e apresentou o piloto para a União Brasileira de Compositores. Foi aprovada e pôde levar em frente o seu projeto.

Atualmente, a jornalista é editora da Revista de História da Biblioteca Nacional. Mesmo passando por outras experiências, como um programa sobre música na baixada, Vivi diz que sua grande paixão é trabalhar em revistas, onde pode se aprofundar e produzir reportagens diferenciadas e mais reflexivas.

“O repórter faz a diferença”


Já Alda Maria foi categórica ao definir o profissional do ramo. "A cultura de um repórter realmente faz diferença. Cultura é tudo. Todas as experiências do dia-a-dia influenciam no resultado do seu trabalho na área". Hoje professora, Alda passou por jornais como O Fluminense e emissoras de rádio como a Rádio Mec. 

"Minha paixão era trabalhar com o rock. Tive muita dificuldade para me acostumar com o texto jornalístico no começo da carreira, mas com o tempo e trabalhando com a cobertura de música acabei por descobrir minha paixão" contou.

Alda, que já trabalhou também em assessorias de comunicação, como a do portal do jornalista Sidney Rezende e a do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), fala que uma das grandes satisfações do jornalismo cultural é o contato com pessoas e assuntos interessantes.

“Eu tive a grande oportunidade de entrevistar o José Saramago quando ele ganhou o Nobel de Literatura, por exemplo. É uma honra. A gente lida o tempo todo com a cultura do país e do mundo”, acrescentou. 

Paixão por livros


Flávia Midori vive um ambiente um pouco diferente dos outros integrantes do time de ex-alunos da UFF dessa edição do Controversas. Entrou na faculdade pensando em trabalhar com cinema, até que foi convidada para estagiar na Folha Dirigida. Na mesma época, foi chamada para uma editora de livros didáticos. Escolheu a editora e, desde então, acompanhar a produção de livros antes de serem lançados passou a fazer parte de sua rotina.

“O legal de trabalhar em editoras é que eu lia os livros antes de irem para as prateleiras”, comentou.

Flávia já passou por editoras como  Ediouro, Guanabara, Nova Fronteira, Sextante e hoje está na Reader’s Digest, conhecida pela revista Seleções. Como produtora editorial, ela trabalha com os livros de coleção da editora, mas conta que às vezes também se arrisca no ambiente mais jornalístico da revista.

“Às vezes, também sugiro pautas, mas, como o fechamento é feito quase um mês antes, só publicamos matérias frias. O modelo, na verdade, é importado da original, da revista americana, mas, por vir de um ambiente totalmente diferente, nem sempre conseguimos apenas traduzir. Muitas vezes adaptamos ou mesmo trocamos por uma nova matéria, produzida aqui”, explicou, descrevendo o processo de edição.

Vocação exercitada desde menina


Táia Rocha fechou a noite contando sua experiência no jornalismo. Ainda um pouco tímida, dizendo que não gosta de falar em público, ela mostrou que o interesse pela profissão veio já na infância.

“Sou de Volta Redonda, onde a criminalidade é muito pequena. Certa vez, houve um assassinato perto da minha casa e fiquei muito impressionada. Daí, criei um jornalzinho com a minha irmã e escrevemos sobre aquele episódio como matéria de capa”.

Já na faculdade, Táia estagiou no Jornal do Brasil, no caderno de cultura, após passar pela agência Target, onde teve seu primeiro contato com o ramo. No JB, ela chegou a escrever sobre artes plásticas, mas o que mais gostou de fazer foi a integrar a equipe da edição dominical.

“Fiquei com o texto mais rico, mais solto. Eu escrevia sobre atividades interessantes na zona sul, só que morava na Tijuca. Então, quando tinha tempo, eu ia andando pela orla e descobrindo pautas”.

Cansada da correria das redações, quando se formou, Táia passou a trabalhar na Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro. Administrando as redes sociais, ela conseguiu tirar os perfis do abandono e o Twitter da Secretaria passou de 2 mil para 10 mil seguidores.

Após uma passagem pela agência Cajá, onde percebeu que poderia se interessar por outros assuntos um pouco mais distantes do seu cotidiano, como medicina do trabalho, ela foi para a agência de notícias EFE, onde está até hoje.

“É um aprendizado diário. É como se eu trabalhasse para adquirir cultura. Na faculdade, algumas certezas foram caindo e deram lugar às dúvidas que todo jornalista deve ter e que ainda me movem”.


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